A acupuntura (acu: pedra, agulha e punctura: pontos) é uma arte milenar de cura usada no tratamento de dores e certas patologias desde o período paleolítico. A China antiga é reconhecida como o berço desta ciência, sendo utilizada inicialmente, como forma de tratamento para o homem, e animais de trabalho, como os eqüinos. Desta forma fica muito difícil separar a história da acupuntura, com a da China Antiga. Segundo Torro (1997), sua história é dividida em dinastias:
Dinastia Hsia: (2205 a 1766 a. C): Período bastante obscuro, sem provas arqueológicas concretas sobre a origem da acupuntura.
Dinastia Shang: (1765 a 1123 a. C): Confirmações arqueológicas, com o surgimento do livro das mutações ou I Ching, o primeiro a falar das duas energias da base da acupuntura Yin/Yang e início das confecções das agulhas metálicas.
Dinastia Chou: (1122 a 256 a. C): Aparecimento do livro Nei King, um dos mais famosos na acupuntura. Nesta dinastia temos a menção mais aceita do primeiro veterinário acupunturista Chão Fu (947 a 928 a. C), no tratamento de cavalos.
Dinastia Chin: Período muito curto na história da acupuntura, poucos relatos.
Dinastia Han: (206 a.C a 220 D. C): Primeiras obras sobre a pulsologia
diagnóstica.
Período de Desunião: (221 a 589): Houang Fou Mi escreve Chia I Ching e “fixa” a exata localização dos pontos de acupuntura no homem, numerando-os de acordo com o respectivo meridiano.
Dinastia Suio e Tang: (590 a 960): Introdução da mensuração métrica do Tsun (unidade de medidas na acupuntura) na localização dos pontos. Aumento do número de registros de cavalos de batalhas tratados pela acupuntura. Formação da primeira escola de acupuntura veterinária.
Dinastia Sung: (960 a 1279): Surgimento de muitas escolas de acupuntura, origem da primeira “farmácia” veterinária (fitoterapia chinesa).
Dinastia Yuan: (1280 a 1367): Desenvolvimento da acupuntura, aumento dos registros de tratamentos em eqüinos.
Dinastia Ming: (1368 a 1643): Declínio da acupuntura.
Dinastia Ching: (1644 a 1911): Acentua-se o declínio da acupuntura, estabilizando-se e crescendo novamente. Verificamos, portanto que história da acupuntura na Medicina Veterinária está muito ligada ao tratamento dos animais de grande porte, como os eqüinos; animais de companhia como o cão, estão experimentando um progresso desta terapia nas últimas décadas.
CONTEÚDO
A acupuntura é um método terapêutico que utiliza a estimulação de certos pontos cutâneos escolhidos pelas suas indicações terapêuticas, em vista de se obter: uma ação antálgica; um efeito antiespasmódico, descongestionante ou excitante e tônico; e também um aumento da capacidade de resistência do organismo as diversas agressões as quais está submetido (RUBIN, 1983). Segundo Leger (1977), os chineses acreditam que a origem real da doença concentra-se no obstáculo ao fluxo natural de energia, se sobrevém um obstáculo nocircuito da grande circulação de energia, tudo que fica a montante adquirirá excesso etudo que está a jusante, uma insuficiência de energia. Portanto o papel da acupuntura é o de suprimir tal obstáculo, excitando o ponto ou pontos apropriados (Figura 1 e 2). A acupuntura reúne na verdade duas técnicas: a estimulação de áreas definidas na pele por agulhas e/ou por transferência de calor para fins terapêuticos. A natureza do tratamento pela acupuntura visa restabelecer o equilíbrio do organismo nos estados defunção contraditórios, tratando doenças funcionais reversíveis e propiciando uma melhora no caso de doenças graves (DRAEHMPAEHL & ZOHMANN, 1997).
A acupuntura tem indicação em diversas patologias, sempre como um complemento a Medicina Veterinária convencional e muitas vezes indicada para poder substituir gradativamente os medicamentos alopáticos cujos efeitos colaterais não são suportados pelo animal.
A acupuntura é uma técnica indicada no tratamento de doenças neurológicas como paresias e paralisias de diferentes origens, epilepsia refratária ao tratamento médico e processos agudos ou crônicos dolorosos, devido ao seu intenso efeito analgésico. Na acupuntura além das agulhas convencionais, utiliza-se também, de associação no tratamento das patologias como: implantes de agulha de ouro, moxabustão, injeção
de vitamina B12; eletroacupuntura. Cada técnica será explicada a seguir:
Implante de ouro: O objetivo desta técnica é estimular por um longo período o ponto de acupuntura. É aplicada principalmente em patologias de dor crônica como displasia coxofemoral e espondilose.
Moxabustão: Nesta técnica utiliza-se o calor para tratar de doenças crônicas, do frio e de deficiência. Utiliza-se para tanto um bastão de Artemísia vulgaris, uma erva chinesa. O bastão é colocado próximo ponto de acupuntura durante alguns segundos, aquecendo-o e tomando cuidado para não se encostar à pele do animal.
Injeção de vitamina B12: Tem a finalidade de estimular o ponto acupuntural por um período maior. As vitaminas do complexo B são muito utilizadas em todos os tipos de tratamento e nesta técnica utiliza-se uma agulha de insulina, que não causa desconforto ao animal e a quantidade é de acordo com o local e o tamanho do animal, e a dose variando de 0,2ml até 1ml.
Eletroacupuntura: É a principal técnica utilizada nos casos de distúrbios neurológicos e articulares. Produz excelente analgesia e um estimulo muscular. A freqüência normalmente é de 10Hz durante 10 a 20 minutos, porém em casos de dor aguda o tempo de estimulação pode chegar à 40 minutos com uma freqüência
alternada acima de 1000Hz. Está técnica em muito dos casos, é bem aceita pelos animais, porém pode haver uma certa resistência nos primeiros tratamentos, geralmente após duas ou três sessões o animal estará acostumado.
Tratamentos:
Cinomose: A acupuntura é utilizada principalmente para tratar os casos de sequela, mas não é utilizada nos casos agudos da mesma. A resposta é excelente com a maioria dos casos tendo recuperação de quase 100%. A paresia dos membros é a lesão mais fácil de resolver do que as mioclonias. Utilizam-se as agulhas com associação moxabustão e injeção de complexo B, o tratamento é feito uma vez por semana durante 20 minutos, sendo 10 minutos de moxabustão; atenção com a probabilidade de o animal piorar nas primeiras duas
semanas de tratamento, isso pode ser uma recaída da própria doença ou pode ser efeito da acupuntura. O tempo de recuperação é muito variável, isto vai depender muito do estado do animal.
Síndrome de Wobbler: O tratamento de escolha é a acupuntura, onde obtemos excelentes resultados. Utiliza-se o método “cercando o dragão” são pontos locais ao redor da lesão associada a eletroacupuntura numa freqüência de 10Hz por 20 a 40 minutos.
Neurite do Trigêmeo: Caracteriza-se pelo aparecimento agudo de paralisia mandibular levando a incapacidade de fechar a boca. A vantagem do uso da acupuntura é que em torno de três dias o animal está curado. O ponto chave para o tratamento é o estimulo elétrico em uma freqüência de 10Hz durante 40 minutos. O tratamento é diário e se possível duas vezes por dia.
Acidente Cerebrovascular: A acupuntura trata as sequelas como paralisia facial, inclinação da cabeça, andar em círculos, dismetria do andar dos anteriores onde se obtém ótimos resultados. O tratamento é eletroestimulação 10Hz por 20 minutos.
Displasia coxofemoral e Necrose Asséptica da Cabeça do Fêmur: O tratamento é basicamente idêntico para ambas, utiliza-se os pontos Bai Hui e eletroestimulação com freqüência de 10Hz por 10 a 15 minutos. Associa-se também injeção de complexo B. A técnica é feita uma vez por semana.
Espondilose: o tratamento de escolha é a acupuntura não sendo necessário o uso de remédios. No procedimento é feitas a técnica de “cercar o dragão” com eletroestimulação durante 20 minutos com uma freqüência de 10Hz; tem o emprego também de moxabustão durante 10 minutos e injeção de complexo B. Em casos mais graves que não se obtém resultados o uso da técnica de implante de ouro apresenta
uma boa resposta.
CONCLUSÃO
Podemos concluir que a Acupuntura e as suas técnicas de aplicação têm sido muito bem aceitas pelos veterinários e proprietários como forma de terapia para diversas patologias, principalmente aquelas do sistema nervoso onde para as sequelas neurológicas, a Acupuntura, torna-se possivelmente o único tratamento. E
dependendo do grau da lesão, onde se a cura total não pode ser estabelecida, alcança-se pelo menos, a melhora na qualidade de vida do paciente. Portanto, fica evidente a utilidade terapêutica desta ciência, que por sua vez deveria ser incluída nas grades curriculares de todas as Faculdades de Medicina Veterinária, para que os
acadêmicos pudessem desde a graduação ter contato com esta milenar e fascinante técnica de cura.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DRAEHMPAEHL, D.; ZOHMANN, A. Acupuntura no cão e no gato - Princípios
básicos e prática científica. São Paulo: Roca, 1997. 245p.
LERGER, J.P. Pequeno guia de acupuntura. São Paulo: Andrei, 1977. 61p.
RUBIN, M. Manual de Acupuntura Veterinária. São Paulo: Andrei, 1983. 159p.
TORRO, C. A. Atlas prático de acupuntura do cão. São Paulo: Livraria Varela, 1997, 185p.
Filadelpho, André Luís
REVISTA CIENTÍFICA ELETÔNICA DE MEDICINA VETERINÁRIA – ISSN: 1679‐7353
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Ano V – Número 09 – Julho de 2007 – Periódicos Semestral