segunda-feira, 18 de março de 2013

Recentes avanços em Anestesiologia Veterinária



Os progressos na monitoração do paciente e a introdução de novos fármacos e técnicas anestésicas têm possibilitado maior segurança durante a anestesia. Apesar da falta de levantamentos estatísticos nacionais, estudos realizados em outros países relatam que o índice de mortalidade relacionada à anestesia em pequenos animais é de aproximadamente 0,15% (CLARKE & HALL, 1990). Atualmente, os hospitais e clínicas de pequenos animais têm investido em recursos como anestesia inalatória e aparelhos mais sofisticados de monitoração (oxímetro de pulso, monitor cardíaco). Apesar de exigir treinamento específico e um investimento inicial maior, a anestesia inalatória proporciona maior segurança ao paciente. Dentre os anestésicos inalatórios mais empregados em nosso meio, destacam-se o halotano e o isofluorano. O isofluorano, quando comparado ao halotano possui a vantagem de proporcionar indução e recuperação mais rápidas da anestesia, não sensibilizar o miocárdio às catecolaminas e não deprimir a função cardíaca (débito cardíaco) (MUIR & HUBBELL, 1995). Entretanto, seu uso está restrito a animais de alto risco em função de seu custo relativamente elevado. Recentemente, o sevofluorano tem sido utilizado em pequenos animais (OLIVA, 1997), sendo um fármaco com grande potencial de emprego em anestesiologia veterinária.

As técnicas anestésicas injetáveis podem ser utilizadas quando não se dispõe de equipamento para anestesia inalatória e recursos humanos especializados. A associação atropina/xilazina/quetamina tem sido amplamente empregada nestes casos. Entretanto, deve-se considerar que o grau de depressão cardiorrespiratória produzido por esta técnica contra-indica o seu uso em pacientes idosos, cardiopatas e com a função cardiorrespiratória comprometida (KLIDE, 1975; KOLATA & RAWLINGS, 1982). A tiletamina pode ser utizada como alternativa à quetamina, possuindo maior potência e duração de ação. Contudo, este fármaco resulta em recuperação anestésica mais prolongada com maior risco de excitação, principalmente em cães. A tiletamina é disponível para uso clínico associada ao zolazepam (benzodiazepínico). A utilização de um fenotiazínico (levomepromazina) previamente à tiletamina/zolazepam melhora a qualidade da anestesia (POMPERMAIER, 1995).
Dentre os anestésicos gerais intravenosos, o tiopental e tiamilal sódico tem sido utilizados como agentes indutores da anestesia geral inalatória ou como agentes únicos em procedimentos de curta duração. A anestesia produzida por estes fármacos pode ser prolongada através da re-administração de pequenas doses adicionais, entretanto seu efeito cumulativo é pronunciado nestes casos, observando-se que a recuperação do animal torna-se excessivamente prolongada (MASSONE, 1994). O propofol é um novo anestésico geral intravenoso, cujo emprego tem sido investigado em pequenos animais. A sua característica mais notável é o efeito cumulativo menos pronunciado e a recuperação mais rápida que os bartúricos (tiopental).
As anestesias locais podem ser empregadas em pequenos animais para determinados procedimentos cirúrgicos. A anestesia peridural é uma modalidade de anestesia local utilizada com sucesso em cães, para cirurgias retro-umbilicais (cesarianas, fraturas de membros posteriores). Todavia, esta técnica pode não ser viável em animais obesos e de temperamento agitado. Deve-se considerar ainda o risco de intoxicação pelo emprego de doses elevadas de anestésico local, principalmente em filhotes e animais pequenos.
O emprego de novos fármacos e técnicas anestésicas tem possibilitado maior segurança durante a anestesia . Entretanto, ainda não se desenvolveu o anestésico "ideal" ou seja, aquele capaz de produzir analgesia, inconsciência e relaxamento muscular, sem interferir com as funções vitais, resultando em recuperação rápida e isenta de complicações. Para a realização de uma anestesia segura, deve-se conhecer a farmacologia do agente anestésico que se está empregando, bem como suas vantagens e desvantagens face às diversas situações clínico-cirúrgicas.
 

 
REFERÊNCIAS

CLARKE K.W., HALL L.W. A survey of anesthesia in small animal practice: AVA/BSAVA report. J. Ass. Vet. Anaesth. v.17, p.4-16, 1990.

POMPERMEYER, L.G. Avaliação da levomepromazina e atropina como medicações pré anestésicas na anestesia dissociativa pela associação tiletamina-zolazepam, em cães. Botucatu, 1995. 132p. Tese (Doutorado) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista.

KLIDE, A.M. CALDERWOOD, H.W., SOMA, L.R. Cardiopulmonary effects of xylazine in dogs. Am. J. Vet. Res v.36, p.931-5, 1975

KOLATA, R.J. RAWLINGS, C.A. Cardiopulmonary effects of intravenous xylazine, ketamine , and atropine in the dog. Am. J. Vet. Res. v.43 p.2196-8, 1982.

MASSONE, F. Anestesias gerais barbitúrica e não-barbitúrica. In:___ Anestesiologia Veterinária: Farmacologia e Técnicas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p.58-68, 1994.

MUIR, W.W., HUBBELL, J.A.E. Pharmacology of inhalation anesthetic drugs. In: ___ Handbook of Veterinary Anesthesia, St. Louis: Mosby-Year Book, p.142-60, 1995.

OLIVA, V.NL.S. Avaliação do uso do sevofluorano como agente de manutenção anestésica em cães, em diferentes concentrações de oxigênio e óxido nitroso. Botucatu, 1997. 91p. Tese (Doutorado) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista.


Autor: Prof. Francisco José Teixeira Neto
           Responsável pelo Serviço de Anestesiologia Veterinária
           FMVZ / UNESP - Botucatu