Os
progressos na monitoração do paciente e a introdução de novos fármacos e
técnicas anestésicas têm possibilitado maior segurança durante a anestesia.
Apesar da falta de levantamentos estatísticos nacionais, estudos realizados em
outros países relatam que o índice de mortalidade relacionada à anestesia em
pequenos animais é de aproximadamente 0,15% (CLARKE & HALL, 1990).
Atualmente, os hospitais e clínicas de pequenos animais têm investido em recursos
como anestesia inalatória e aparelhos mais sofisticados de monitoração
(oxímetro de pulso, monitor cardíaco). Apesar de exigir treinamento específico
e um investimento inicial maior, a anestesia inalatória proporciona maior
segurança ao paciente. Dentre os anestésicos inalatórios mais empregados em
nosso meio, destacam-se o halotano e o isofluorano. O isofluorano, quando
comparado ao halotano possui a vantagem de proporcionar indução e recuperação
mais rápidas da anestesia, não sensibilizar o miocárdio às catecolaminas e não
deprimir a função cardíaca (débito cardíaco) (MUIR & HUBBELL, 1995).
Entretanto, seu uso está restrito a animais de alto risco em função de seu
custo relativamente elevado. Recentemente, o sevofluorano tem sido utilizado em
pequenos animais (OLIVA, 1997), sendo um fármaco com grande potencial de
emprego em anestesiologia veterinária.
As
técnicas anestésicas injetáveis podem ser utilizadas quando não se dispõe de
equipamento para anestesia inalatória e recursos humanos especializados. A
associação atropina/xilazina/quetamina tem sido amplamente empregada nestes
casos. Entretanto, deve-se considerar que o grau de depressão
cardiorrespiratória produzido por esta técnica contra-indica o seu uso em
pacientes idosos, cardiopatas e com a função cardiorrespiratória comprometida
(KLIDE, 1975; KOLATA & RAWLINGS, 1982). A tiletamina pode ser utizada como
alternativa à quetamina, possuindo maior potência e duração de ação. Contudo,
este fármaco resulta em recuperação anestésica mais prolongada com maior risco
de excitação, principalmente em cães. A tiletamina é disponível para uso
clínico associada ao zolazepam (benzodiazepínico). A utilização de um
fenotiazínico (levomepromazina) previamente à tiletamina/zolazepam melhora a
qualidade da anestesia (POMPERMAIER, 1995).
Dentre os
anestésicos gerais intravenosos, o tiopental e tiamilal sódico tem sido
utilizados como agentes indutores da anestesia geral inalatória ou como agentes
únicos em procedimentos de curta duração. A anestesia produzida por estes
fármacos pode ser prolongada através da re-administração de pequenas doses
adicionais, entretanto seu efeito cumulativo é pronunciado nestes casos,
observando-se que a recuperação do animal torna-se excessivamente prolongada
(MASSONE, 1994). O propofol é um novo anestésico geral intravenoso, cujo
emprego tem sido investigado em pequenos animais. A sua característica mais
notável é o efeito cumulativo menos pronunciado e a recuperação mais rápida que
os bartúricos (tiopental).
As
anestesias locais podem ser empregadas em pequenos animais para determinados
procedimentos cirúrgicos. A anestesia peridural é uma modalidade de anestesia
local utilizada com sucesso em cães, para cirurgias retro-umbilicais
(cesarianas, fraturas de membros posteriores). Todavia, esta técnica pode não
ser viável em animais obesos e de temperamento agitado. Deve-se considerar
ainda o risco de intoxicação pelo emprego de doses elevadas de anestésico
local, principalmente em filhotes e animais pequenos.
O emprego
de novos fármacos e técnicas anestésicas tem possibilitado maior segurança
durante a anestesia . Entretanto, ainda não se desenvolveu o anestésico
"ideal" ou seja, aquele capaz de produzir analgesia, inconsciência e
relaxamento muscular, sem interferir com as funções vitais, resultando em
recuperação rápida e isenta de complicações. Para a realização de uma anestesia
segura, deve-se conhecer a farmacologia do agente anestésico que se está
empregando, bem como suas vantagens e desvantagens face às diversas situações
clínico-cirúrgicas.
REFERÊNCIAS
CLARKE
K.W., HALL L.W. A survey of anesthesia in small animal practice: AVA/BSAVA
report. J. Ass. Vet. Anaesth. v.17, p.4-16, 1990.
POMPERMEYER, L.G. Avaliação da levomepromazina e atropina como medicações pré
anestésicas na anestesia dissociativa pela associação tiletamina-zolazepam, em
cães. Botucatu, 1995. 132p. Tese (Doutorado) - Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista.
KLIDE,
A.M. CALDERWOOD, H.W., SOMA, L.R. Cardiopulmonary effects of xylazine in dogs.
Am. J. Vet. Res v.36, p.931-5, 1975
KOLATA,
R.J. RAWLINGS, C.A. Cardiopulmonary effects of intravenous xylazine, ketamine ,
and atropine in the dog. Am. J. Vet. Res. v.43 p.2196-8, 1982.
MASSONE, F. Anestesias gerais barbitúrica e não-barbitúrica. In:___
Anestesiologia Veterinária: Farmacologia e Técnicas. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, p.58-68, 1994.
MUIR,
W.W., HUBBELL, J.A.E. Pharmacology of inhalation anesthetic drugs. In: ___
Handbook of Veterinary Anesthesia, St. Louis: Mosby-Year Book, p.142-60, 1995.
OLIVA,
V.NL.S. Avaliação do uso do sevofluorano como agente de manutenção anestésica
em cães, em diferentes concentrações de oxigênio e óxido nitroso. Botucatu,
1997. 91p. Tese (Doutorado) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia,
Universidade Estadual Paulista.
Responsável pelo Serviço de Anestesiologia Veterinária
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